quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Uma Razão a mais Para Ser Anticapitalista

Fonte Imagem: O Viés


Te amo
e odeio tudo que te deixa triste.

Se o mundo com seus horários e famílias
e fábricas e latifúndios e missas
e classes sociais, dores e mais-valia
e meninas com hematomas
no lugar de sua alegria

insistir em te deixar triste,
apertando tua alma
com suas garras geladas,
teremos, então, que mudar o mundo.

Nenhum sistema que não é capaz
de abraçar com carinho a mulher que amo
e acolher generosamente minha amada classe
é digno de existir.

Está, então, decidido:
Vamos mudar o mundo,
transformá-lo de pedra em espelho
para que cada um, enfim, se reconheça.

Para que o trabalho não seja um meio de vida
para que a morte não seja o que mais a vida abriga
Para que o amor não seja uma exceção,
façamos agora uma grande e apaixonada revolução.

Mauro Iasi


terça-feira, 23 de agosto de 2011

Envio



Segue a práxis, envelheço 
E já não tarda o fim do itinerário,
Minúsculo, cinzento.
Que fazer do meu resto de vida, 
Senão dom aos que lutam,
Erram, corrigem, perdem, recomeçam? (...) 

Não me lamento, porque canto,
Faço do canto um manifesto.
Sequei as águas do meu pranto
Nos bronzes fortes do protesto

Acuso a puta sociedade
Com seus patrões, seus preconceitos
O teto, o pão, a liberdade
Não são favores, são direitos.

Noel Delamare, In Da Cama ao Comício, poemas bissextos 


O barco surrealista e colorido do direito alternativo: 20 condições de possibilidade (e sentido)




por Márcio Berclaz

“o discurso critico não pode ter nenhuma pretensão de completude, nem pode pretender falar alternativamente em nome de nenhuma unidade ou harmonia, já que está em processo permanente de elaboração”  (Luis Alberto Warat)


1.  Ter na crítica a principal ferramenta para superação e transformação da realidade;

2.   Não se contentar com as limitações do “senso comum teórico” (WARAT) ou qualquer outro tipo de dogmatismo ou fetichismo por mais sedutor que seja o seu “canto da sereia” (ex: positivismo jurídico);

3. Não se iludir com a visão simplista do direito reduzido ao monopólio nos enunciados do Estado, emprestando valor (e vigor) ao pluralismo jurídico como idéia a ser posta em constante movimento (WOLKMER);

4.  Saber que fazer justiça, mais do que mera lógica ou subsunção asséptica e neutra, passa por escolhas autorais valorativas e corajosas, desde que necessária e constitucionalmente fundamentadas, ainda que isoladas ou minoritárias, não por decisões “anônimas” atribuída aos Tribunais Superiores;

5.   Enxergar o direito pela lente contra-hegemônica, com a compreensão da sua historicidade;

6.   Reconhecer que existem aparelhos ideológicos de dominação (ALTHUSSER) que exercem forte influência (e alienação) sobre a forma de interpretar e aplicar o direito, daí a importância da hermenêutica jurídica e filosófica (STRECK);

7.  Ter consciência de que as relações jurídicas derivam das relações sociais, genealogia que, a despeito do discurso normativo, justifica a permanente busca de aproximação do “dever-ser” para o plano do “ser”;

8.   Refletir sobre o direito não a partir de ingênua linearidade da história, mas com a percepção de que a colonização, o escravismo, a “sacralização “ da propriedade e outra vicissitudes servem de alerta para mostrar a contingência do presente e o uso instrumental (e indevido) que muitos tentam fazer do direito para a perpetuar a dominação;

9.   Defender um direito livre e vivo (EHRLICH), pleno de faticidade e distante da “standardização”;

10. Perceber que o ensino jurídico permanece em crise aguda e saber que sem que haja a sua radical transformação, com prioridade efetiva para as disciplinas formativas ou propedêuticas, não há melhor horizonte possível;

11.Saber que o direito, mais do que ser reproduzido acriticamente, assim como o humano, está em permanente construção e fecundação, sujeito ao materialismo histórico da realidade;

12.Saber que o direito, antes de instrumento de dominação, pode ser poderoso arma de combate (Nietzsche) para “martelar” interferência positiva na realidade social, contanto que cada operador ou jurista saiba reconhecer sua condição de sujeito protagonista;

13.Desconfiar que um projeto de juridicidade alternativa, mais do que possível, é urgente e efetivamente necessário;

14.Reconhecer que os “buracos”, as lacunas e as contradições do sistema são ferramentas necessárias para mostrar que o compromisso que se há de ter é com o “fundo” e não com a forma;

15.Saber que é preferível a insegurança e o desconforto do direito como como espaço da “falta” do que reduzi-lo a uma embalagem recheadas de verdades e certezas;

16.Reconhecer que o melhor caminho a seguir passa longe das autopistas dos leguleios, exigindo digestão e interpretação emancipatória, por maior que seja o desafio da encruzilhada na falta de sinalização;

17.Refletir sobre os significados possíveis do significante “direito novo” (ex: justiça restaurativa, mediação, “direito achado na rua” ou qualquer outra idéia de cunho diferente e progressista);

18.Saber que não há bom direito sem que se faça uma interlocução do seu “achado” com outras experiências de sensibilidade (literatura, arte, música,teatro, etc);

19.Conhecer os escritos de Pashukanis, La Torre Rangel, Michel Miaille, Roberto Lyra Filho, Amilton Bueno de Carvalho, Antonio Carlos Wolkmer, Edmundo Lima de Arruda Júnior, Alexandre Morais da Rosa, entre outros;

20.Lembrar com saudade e saber que o barco maravilhoso, carnavalizado e surrealista de Luís Alberto Warat/Casa Warat precisa continuar...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Entre faixas, cantos e tambores: o Ato Mundial Contra Belo Monte em Santarém


por Kerlley Diane Santos


O som de tambores e palavras de ordem, cerca de cem pessoas compareceram, em Santarém/PA, a mais um ato contra o AHE Belo Monte.

Foto: Cândido Cunha

Na noite do último sábado (20), cerca de cem pessoas caminharam ao longo da Avenida Tapajós, na Orla da Cidade de Santarém, em mais um ato contra a construção do AHE Belo Monte e em defesa dos povos, da floresta e dos rios da Amazônia.
A manifestação, coordenada pela União dos Estudantes de Santarém (UES), Assembleia Nacional dos Estudantes Livres (Anel Santarém -PA) e pela Frente em Defesa da Amazônia (FDA), fez parte do Ato Mundial Contra Belo Monte que movimentou e movimentará, também, outras cidades do Brasil e do mundo.
Após uma concentração de cerca de duas horas na Praça da Matriz, os ativistas tomaram a Avenida Tapajós e seguiram até a Praça Barão de Santarém (São Sebastião). Os ativistas, munidos de faixas, cartazes e entoando cantos e palavras de ordem, manifestaram repúdio aos planos do governo para a Amazônia.


Foto: Ramon Santos

Durante o ato, os participantes destacaram violências e violações que a construção de Belo Monte acarretará a população, povos, comunidades e culturas do Xingu e da região.
Alertaram, também, acerca dos Aproveitamentos Hidrelétricos que o governo pretende erigir na Bacia do Tapajós e dos prejuízos que serão acarretados as populações locais e ao meio ambiente caso o projeto do Complexo Tapajós venha a ser implementado.
Os ativistas propuseram, ainda, uma reflexão acerca das reais prioridades do governo, contrastando a quantidade de recursos que o governo destina a obras como a de Belo Monte e a quantidade que é destinada a outros setores como a educação.
O evento contou com a participação de estudantes, servidores públicos, religiosos, punks e do Movimento Popular de Luta por Moradia de Santarém.